sexta-feira, 29 de março de 2013

Muitas Verdades


Muitas Verdades


Minhas lembranças andam traiçoeiras
apagadas
andam fugindo de mim

O vento passou
e levou a poeira embora
alguma coisa sempre quebra
mas não tinha antes
muito mais do que tenho agora
moro com tanta gente
que nem sei por onde começar
gente que gosta de mim, eu sei
mas que nem sempre se preocupa em demonstrar
moro com meu cachorro
sempre carinhoso
com as plantas que esqueço de regar
com as mágoas
que a solidão me fez conservar

Não quero reclamar
já são muitas verdades pra contestar
até que o vento
deixou bastante coisa desta vez
moro com a esperança
que aparece de vez em quando
moro com a tua lembrança
moro com o que restou do teu sorriso
moro sozinho


Nota: Nem todos os versos falam sobre fatos concretos, sobre vivências concretas. Muitas coisas foram escritas com sentimentos que remetiam a imagens, situações da vida em geral. Assim, de certa forma, se expressa a liberdade poética... posso escrever sobre filhos sem tê-los, sobre viagens sem fazê-las, apenas remetendo a estas circunstâncias o sentimento que era meu no momento em que escrevi... 

sábado, 23 de março de 2013

Um mundo diferente

Um mundo diferente


Era pra ser diferente
era pra você estar lá
quando eu cheguei
era pra estar com Sol
na praia em que lhe levei
era pra você se apaixonar
quando eu me apaixonei

Era pro mundo ser mais honesto
e sincero comigo
pra vida ser menos difícil
pra energia nuclear só ajudar
e não destruir
era pro progresso ser saudável
não tão insensível
era pro meu filho acordar cedo toda terça-feira
era pro meu time ser campeão
pro meu carro parar de enguiçar
era pra eu parar de machucar meu coração

Quando eu olhei nos seus olhos
era pra gente ter se beijado
e se eu lhe procurei
por que que eu não podia ter lhe achado?
bem que podia ser tudo diferente
os documentários podiam ser divertidos
o ar-condicionado do banco podia funcionar
as guerras podiam acabar
desavenças sem sentido
que fazem tanta gente se matar
quanta criança sem comida
quanta terra pra plantar
não era pra ser assim
era pra gente se importar

Era pra você ter me feito feliz
era pra alguém ter me feito enxergar
que o mundo não fui eu que fiz
e eu sozinho não vou poder mudar
bem que podia ser de verdade
podia só ser normal
era pra ser diferente
acabou sendo igual

Depois que tudo acabar


Depois que tudo acabar


É hora de esquecer
é hora de levantar
e é hora de crescer
tentar sair do escuro
e quem sabe ver o Sol nascer

Olhe bem a distância
antes de saltar o abismo
e antes de dizer eu te amo pra alguém
diga pra si mesmo
o céu está nublado
acho que vai chover
vou procurar uma marquise
e esperar a chuva passar
não pode chover o tempo todo
não pode dar errado o tempo todo

Não vou mais duvidar de mim quando eu cair
vou continuar tentando todas as portas
alguma vai ter que abrir
não vim aqui à toa
e não vou desistir
o rascunho leva à perfeição
e os erros
são os rascunhos do coração


Nota: Tirando uma metáfora “quase interessante”, esse aqui é bem cafona... mas é isso, está como foi, como era... e quem não foi cafona pelo menos uma vez na vida, que atire a primeira pedra...

terça-feira, 12 de março de 2013

Turista Emocional


Turista Emocional

Quero um romance
desses de televisão
do tipo que o cara sempre sabe
as flores preferidas dela
o vinho nunca está com um gosto estranho
e a música que começa a tocar
era exatamente a que os dois queriam ouvir
quero um amor de filme
onde todo mundo sabe o que dizer
e sempre diz na hora certa
do jeito exato
um romance de mentira,
desses que dão certo

Minha felicidade
tem cheiro de terra molhada
cara de criança levada
história com final feliz
dizem que tudo que a gente faz
tem um motivo
então eu queria saber
qual o motivo
de eu não fazer
nunca acertei em nada
só deixei de errar em algumas coisas
não quero pena
quero compreensão

Felicidade é poeira
que o vento faz sumir
e uma chance que se perde
é uma pessoa que vai embora
sem se despedir



Nota: Penso diferente hoje... acredito em muito do que soava como sonho naquela época pra mim... vivi muito do que ironizei como impossível... e percebo nitidamente que aquilo que encontrei de sincero e belo na vida se deve justamente a esta forma de entrega que me era tão peculiar... e ainda é...

domingo, 10 de março de 2013

Serena Certeza


Serena Certeza


Minha poesia não é a mesma
de anos atrás
mas meus olhos continuam
enxergando demais
minha certeza é a locomotiva do meu trem
hoje sei que não tenho nada
e também sei que ninguém tem

Ela me disse que não foi
porque não tinha que ser
acreditei, da mesma forma que entendi
quando um outro me disse
“pára o mundo, que eu quero descer”

Saiba ouvir
o que as pessoas não souberem dizer
e pior do que querer ferir
é ferir sem querer
sei que é estranho,
mas as vezes
em que me senti mais sozinho
foram justamente as vezes
em que tinha mais gente perto de mim

O mar torna meus problemas tão pequenos
e minha existência tão efêmera
pequenas e suaves gotas de falta de explicação
coisas sem sentido
muros sem portão

Minha mente anda tão cheia
e meus dias tão vazios
queria voltar a ser criança
pra poder brincar de ser feliz

Nota: Quando me refiro a “ela me disse que não foi porque não era pra ser”, me refiro a uma amiga pessoal, nos meus 16 anos, que falava sobre uma curiosa história de uma carta, que sozinha rendeu muito mais do que seu texto um tanto exagerado e sem propósito... uma história até engraçada, mas que contarei, talvez (!), em uma outra oportunidade... Quanto a quem disse “pára o mundo que eu quero descer”, me referia à ninguém menos que Renato Russo... não posso garantir que ele tenha sido o primeiro a dizer isso, mas foi de quem ouvi...

sexta-feira, 8 de março de 2013

Sempre Juntos


Sempre Juntos


Eu não precisava vir de tão longe
não precisava ir pra tão longe
mas precisava de você

Sempre terei algo idiota pra dizer
e você vai sorrir
quando eu olhar pra você
e seremos felizes
enquanto o mundo for
o que alguém disse
que ele tinha que ser
e sempre que nos virmos
acharemos que tudo vai dar certo
e teremos uma música
e seu vestido azul
vai ser cada dia mais azul
teremos cachorros
uma casa bonita
com rede na varanda
com paredes que nós mesmos vamos pintar
e vamos namorar em frente à lareira
mesmo apagada,
já que parece que esse verão não vai acabar
e vou estar por perto, e lhe fazer carinho
sempre que você chorar
e nossos filhos vão crescer
e a mulher na formatura,
a menina que eu vi nascer
vai se orgulhar de mim
e eu vou me orgulhar de você
soluçando do meu lado
envergonhada com as lágrimas
com a mesma delicadeza encantadora
que os anos não conseguiram ofuscar
e o garotão mais novo
vai aprender a jogar bola comigo
e em vez de aprender,
vai me ensinar
e verei minha juventude de volta
naquele rosto tão parecido com o meu
e serei sempre tão romântico e idiota
quanto estou sendo agora
e vou continuar achando graça
no seu jeito de falar
nas manias que só o tempo
faz a gente admirar
e estaremos sempre juntos
enquanto o mundo não quebrar alguma coisa
pra gente ter que consertar


Nota: Esta foi escrita, de uma vez só, logo após assistir ao filme “O Casamento do Meu Melhor Amigo” (My Best Friend's Wedding) com a Julia Roberts... o filme é besta, eu sei, mas o que eu posso fazer? Foi a inspiração que tive... Se não me engano, deu origem a uma outra... rs... se eu chegar nela e lembrar, darei o devido crédito...rs...

quinta-feira, 7 de março de 2013

Último Acorde


Último Acorde


Restos de felicidade
espalhados pelo chão
lençóis amarrotados
num canto do colchão
teu carinho faz falta
tua presença faz falta
talvez tenha sido melhor
meu passado
ameniza a dor que vier
que seja qualquer, será menor
só não teme a solidão
quem nunca esteve sozinho
último acorde
primeira impressão

Viver e mais nada
ser feliz
ainda que da forma errada
mesmo porque
o que é certo pra mim
nem sempre é certo pra você
não lamento minhas perdas
lamento as coisas que não perdi
por nem chegar a ter
prefiro me arrepender de errar
do que de não tentar
as ruínas da paixão
deixam o frio entrar
o sol só fere a penumbra
e hoje só o cobertor me aquece

A distância tem um sentido diferente
pra quem tem tudo por perto
a comida tem menos sabor
quando não se tem fome
queria poder
te ter de volta
mas é tarde
sempre é tarde
pra desfazer o que nem foi feito
pra consertar o que não tem conserto
a luz acende
a festa acaba
é hora de ir embora

terça-feira, 5 de março de 2013

A idade do Romantismo


A idade do Romantismo


Jogos de palavras
textos ensaiados
pinturas feitas sem tinta ou pincel
cartas amorosas
versos sonolentos
perdidos em pilhas de papel
amores de verão
que nem chegam a durar
o tempo da estação
músicas mal tocadas
com letras que ninguém presta atenção
olhares que tocam
palavras simples que nunca se esquece
beijos, promessas
coisas sem explicação

Idade da pressa
da dúvida
da incoerência
amores diminuídos pelo modo
enaltecidos pela essência
há sempre coisas que acontecem
sem razão de acontecer

Sei que tudo que preciso pra viver
é um violão meio desafinado
alguma coisa linda pra fazer
e alguém que me ame do meu lado
sei que é pouco
e sei que basta
romantismo é começar do meio
sem nada pra justificar
olhar nos olhos
dizer sem precisar falar
reino do mal entendido
sofrimento banal
carinho perdido
com quem nem se esforça
pra tentar merecer
mania de gostar
de quem nos faz sofrer
e digo porque sei
que nem quero mais saber
o amor por mais honesto
traz o medo de ser finda
água de infinito beber
e se a sede nunca acaba
não há quem deixe de querer

domingo, 3 de março de 2013

Bons tempos


Bons tempos

        
Os dias passados
fazem saudade
os dias futuros
fazem esperança
tenho saudade dos tempos
em que os olhares
eram mais sinceros
em que as pessoas
não tinham muito o que dizer
e não diziam
as horas passavam mais devagar
entre sorrisos menos pretensiosos
entre canções
que pareciam ser mais fáceis de cantar
abajures acesos à noite
vaga-lumes perdidos no início da manhã
gargalhadas felizes na hora do jantar

Sinto falta dos dias
em que os tropeços eram menos dolorosos
quando as perguntas não tinham respostas
porque não precisavam ter
o milagre perde o encanto
quando se sabe porquê
as luzes iluminam a sala
mas nem tudo a gente pode ver

As lágrimas caíam com mais facilidade
com menos culpa
a solidão era menos solitária
e o silêncio,
bem menos barulhento
o amor era conseqüência inevitável
e a paixão,
sensação incontestável
a graça não era repetir
mas fazer de novo
de um jeito diferente

A realidade me faz
sentir saudade
de tempos que não passaram
de coisas que não aconteceram
faz do passado espelho para o futuro
e do espelho, imagem refletida
pesar e decepção
é dizer o já dito
ainda que dito em vão

sexta-feira, 1 de março de 2013

Noites sem Luar


Noites sem Luar


Olho meu passado
como quem folheia um livro velho
empoeirado
e a poeira me incomoda
não por ser
mas por estar
viver pra viver
amar por amar
pessoas que se apaixonam
músicas que não param de tocar
é bom se saber o que dizer
mas quando não se diz
deixa de ser
há certas certezas
em que ninguém acredita mais
afinal já faz tempo
que os filhos
morrem antes dos pais

Há quem mande recados
em textos mal feitos
e há quem crie frases de efeito
que não têm efeito nenhum
eu deixo coisas pelo meio
como os que esquecem filmes
que nem chegaram a terminar de ver
memórias são gotas de chuva
relevantes só enquanto não pára de chover
sei que nasci pra ser feliz
pena que a gente nunca faz
o que nasceu pra fazer