quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Ou-trem


No compasso do caminho,
que parece seguir apenas em frente,
já fui vagão.
Já levei em mim o que não era meu.
Fui carona de quem, em mim,
viu atalho.
Resvalo de si.

Mas antes disto, 
também fui carga.
Já me arrastei de um lado a outro,
levado por curvas que não eram feitas por mim.
Já fui pesado, etiquetado
comprado e vendido
aguardado e rejeitado.

Já fui estação.
Aguardando incólume por paradas breves,
esperando por quem nunca desembarcou.
Lamentei em chuva o que vi o ar deslocado levar,
pois a estação é ponto de parada,
mas nem mesmo dos perdidos é lar.

Mas há de chegar o dia,
em que serei locomotiva.
E então outros me acompanharão
ou simplesmente ficarão para trás.
Envoltos no vapor que minha certeza será.
Vapor de quem, outrora vagante,
agora, vagalume.

sábado, 24 de novembro de 2018

A gente nem sabe o que tem.

Só sabe que é tão ruim,

que tem dias que é só dor.

E em outros,

é dor também...

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Não, não era o vento

"Às vezes ouço passar o vento", diz Fernando...

Mas não, não era vento.

Era tempo.

Seguindo.

E nos deixando para trás.

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Cães e aço

Eu me desfiz de tudo...

Mas queria mesmo era me desfazer das pessoas...

... esses pedaços de carne que andam e desapontam.

Porque eu, que também ando,

queria só parar.

E deixar.

 ...de me desapontar. 

sábado, 29 de setembro de 2018

Ególatras Anônimos

Não importa o quão na merda eu esteja, eu me levanto e busco, tento fazer o que é preciso ser feito. Apenas porque alguém tem de fazer. 
Eu auxilio a quem posso. Apenas porque eu posso. Porque, afinal, se eu posso, eu não deveria? Omitir-me daquilo que não me gera ganho direto deveria ser mesmo o melhor caminho?
Mas não deixo de imaginar o quanto minha vida, e creio que da maioria, seria melhor se quem pudesse, fizesse. Se quem pudesse ajudar, levantasse e fizesse, apenas porque alguém tem de fazer.
Mas para isso, as pessoas precisariam levantar suas cabeças. Olhar ao seu redor. Perceber. Enxergar outras pessoas. Outras vidas que não giram em torno das suas, vidas que nem sempre tem algo a oferecer em troca da sua atenção, do seu cuidado.  
Mas a posição mais comum no uso dos modernos smartphones, creio eu, está correta: um pouco acima do umbigo, que é para onde todos estão realmente olhando. 
E no fim, tudo isto é uma grande retórica, porque eu não quero realmente ser notado por essas pessoas. Eu quero é não precisar ser notado por elas. Alheio ao arreio que apenas aparelhou aquilo que sempre fomos e sempre seremos: primatas fascinados demais pelo fogo para lamentar o incêndio.

segunda-feira, 10 de setembro de 2018


Gentilezas Falsas

Sejam gentis... Mesmo quando não tiverem razão para ser.  Sejam gentis, e se não souberem ser, finjam. Sorriam mesmo sem entender. Porque eu sei o peso do desprezo. Eu sei o preço do desapreço. O peso da rudeza que carrego mesmo sem nunca ter pedido por ela.
Carrego em mim cada olhar desviado.
Carrego, com alças que me cortam os ombros, o desdenho sobretudo daqueles que amei e de quem só queria um afago, um sorriso, uma gentileza ainda que falsa.
Em cada pessoa que se diz autêntica e verdadeira, jaz a alegria e a motivação daqueles que ouviram verdades que por mais verdadeiras que fossem, careciam de cuidado, de carinho. Mais vale um elogio calculado que leva o outro ao próximo passo, do que a crítica mal pensada que aleija tantos de nós. Não afague todos os cães nas ruas se não gosta deles, mas não os apedreje para que então fujam até dos que os querem bem. Não maltrate quem levará isso consigo e arrastará como bolas de ferro que nos impedem de ao menos tentar. Nem todos vão ignorar, relevar ou retrucar. Na dúvida, seja gentil. Não seja verdadeiro, autêntico. O mundo já tem autenticidade de sobra. O que falta é gentileza, ainda que falsa.


terça-feira, 14 de agosto de 2018



Tu és importante para quem?
A quem, te impor um tanto, convém?

Somos importantes para o outro na exata proporção da função que temos em sua vida. 
Quanto menor a função, mais desimportantes e descartáveis seremos.
O lugar daquilo que de nada serve é o lixo. Porque até na coleção há o adorno, de si ou do ego.

E antes que se diga que até para o lixo há serventia, para quem descartou, de fato, não havia.

sexta-feira, 29 de junho de 2018

domingo, 6 de maio de 2018

a chuva que tomava sua alma
era tanta, e tão fria
que embaçara seu coração 
tal como uma taça, já vazia de vinho,
 se embaça 
com o hálito quente dos lábios 
que, já sem ter o que sorver, 
se vão

domingo, 22 de abril de 2018

Inferno ou céu




Do fundo da minha dor, indecisa como a luz de uma vela
ou do alto da minha lucidez, visitante como um beija-flor
desejo apenas
que você arda ou se regozije
no inferno ou céu de suas próprias escolhas

quinta-feira, 15 de março de 2018

domingo, 21 de janeiro de 2018

me sinto como um náufrago... preso nessa vida, como que preso em uma ilha...

sugando o néctar das flores que são os poucos momentos doces da vida,

bebendo a água das folhas, do pouco que há de amor nessa existência,

esperando, lúcido e desesperado, pelo resgate

ou pelo fim



nota: versos sobre como é viver nesses tempos, nesse planeta, nessa sociedade ocidental moderna.